Tu quoque, Pixar? *
12/09/2011 Deixe um comentário
É isso mesmo que você acabou de ler: “Até tu, Pixar?”*. A célebre frase proferida por um César em seu momento de descoberta – traído por seu “filho” Brutus – numa situação nunca antes pensada, é a referência para o que venho observando sobre o maior estúdio de animação, em 3D que fique claro, do mundo do cinema.Talvez seja a “Disneyficação” que ela sofre, ao ser comprada de vez pelo estúdio do Mickey. Talvez os compromissos assumidos em outras frentes, como franquias, ganhos com produtos licenciados e a eterna tentativa de tornar cada vez mais real os seus filmes, realizados artificialmente.
Mas que os últimos dois filmes da Pixar foram ruins, perto da sequência que eles haviam “encaixado”, ah são. “Toy Story 3” e “Carros 2” chegam a ser gratuitos, como se estivessem sendo realizados por obrigações contratuais, sabe? Não há aquele capricho em surpreender, algo que a empresa da luminária buscava de forma incansável e que até fez com que os apreciadores de cinema e os críticos criassem a frase símbolo do estúdio: “Eles fazem filmes para crianças que agradam até nós, adultos”.
As histórias, antes originais, como aquela do robozinho que parece humano, largado em um planeta estragado por sua população e que se “descobre” em uma aventura com fundo crítico as questões do meio ambiente e da preguiça que vingam em nossos tempos atuais; ou aquela outra do senhor que ao perder a esposa decide arriscar tudo em uma aventura por terras desconhecidas e que redescobre uma razão para viver, através da amizade; foram deixadas de lado, para que algo comum e até mesmo rotineiro tome conta da tela grande.
Não sei afirmar, agora, se é no DVD de extras de “Procurando Nemo” ou se é no DVD de extras de “Monstros S/A”, mas ali, em algum momento, o líder do estúdio, senhor John Lasseter, comenta que o segredo que ele enxergava por detrás do sucesso de sua “gangue” era o cuidado com a história a ser contada – os roteiros demoravam até três anos para chegarem ao formato final.
Ou seja: a história a ser contada poderia até ser corriqueira, como a de um menino que some e vê seu pai enfrentar um novo mundo para encontrá-lo – como em “Procurando Nemo” – mas se ela fosse contada de uma nova maneira, respeitando a inteligência de quem a assistia, ao ponto de praticamente sequestrar as pessoas para aquele universo, o objetivo estava cumprido.
Aí, depois de filmes excelentes como “Toy Story 2”, “Monstros S/A”, “Procurando Nemo”, “Os Incríveis”, até mesmo o fraco, mas honesto “Carros”, e as duas obras-primas “Wall-e” e “Ratatouille” eles cometem “Toy Story 3” e agora “Carros 2”. O que pensar?
Não sei, mas quem sabe rezar um “Miyazaki que estás no céu” seja um início? Até a próxima.
Texto por Rodrigo Castro
Publicado originalmente em A Sétima e todas as artes